TOMAS TRANSTRÖMER
UM HOMEM DO BENIM
UM HOMEM DO BENIM
(sobre uma foto de um baixo-relevo
em bronze do século XVI do reino negro do Benim, mostrando um Judeu Português)
Quando a escuridão caiu eu estava tranquilo
mas a minha sombra esmagada
contra a pele do tambor do desespero.
Quando as batidas começaram a morrer ao longe
eu vi a imagem de uma imagem
de um homem chegando apressado
à página da futilidade
que permanecia aberta.
Como se caminhasse diante de uma casa
abandonada há muito tempo
e alguém aparecesse à janela.
Um estranho. Ele era o navegador.
Ele parecia atento.
Aproximou-se sem caminhar.
Com um chapéu que se moldou
para imitar o nosso hemisfério
com uma aba no equador.
O cabelo dividido em duas partes.
A barba pendendo ondulada
como a retórica na sua boca.
Agarrou o braço direito dobrado.
Era magro como uma criança.
O falcão, que outrora permanecera
no seu braço, cresceu
nas feições do seu rosto.
Ele era o embaixador.
Interrompido a meio de um discurso
que continuou no silêncio
com um vigor ainda maior.
Três tribos estavam silenciosas nele.
Ele era a imagem de três pessoas.
Um judeu de Portugal,
que navegou com os outros,
à deriva e a fazer tempo,
o revirado bando
na caravela que foi
a mãe dos seus baloiços de madeira.
Desembarcou numa estranha fragrância
que tornou o ar velado.
Observado no mercado
pelo conjurador negro.
Por muito tempo na quarentena dos seus olhos.
Renascido na corrida ao metal:
«Vim para conhecer
aquele que eleva a sua
lâmpada
para se ver em mim.»
(tradução minha, a partir da tradução de Robert Bly, in
Micromegas – Vol IV, No. 1 [s. d.])
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