11.10.13

MARIA ALZIRA SEIXO


NOITE INFLECTIDA

Desaparece assim teu encanto solar de redomas frágeis atraindo chispas vermelhas sobre as pedras nuas. Encantamentos frouxos que mutáveis te abrem os ares tão agrestes da manhã. Olha esse astro que então abandonaste por incauto revertimento a áridas páginas que te tomam na morte da imagem, e não lhe desapegues a incomensurável brandura de tecedura limpa, nitidez reflexiva da morte cruel dos outros. Vê o espanto. Repara no que frágil anoitece e rubro volta em cada grito de presença por sinal maligna. Que do teu entendimento a forte perda se enreda pelos tumultos da escrita lisa, esse sentido do teu embevecer. Perdoarás as manchas, porém nunca as mansas quietações redundantes dos alvores da descoberta. Porque o sabes te esvais e renasces em cada hora do mais puro infinito discorrer dos mundos.

para o António Ramos Rosa

(de Flores de Lava, in letra da terra, o oiro do dia, 1983)

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