MARIA ALZIRA SEIXO
NOITE INFLECTIDA
para o António Ramos Rosa
NOITE INFLECTIDA
Desaparece assim teu encanto solar de redomas frágeis atraindo chispas
vermelhas sobre as pedras nuas. Encantamentos frouxos que mutáveis te
abrem os ares tão agrestes da manhã. Olha esse astro que então
abandonaste por incauto revertimento a áridas páginas que te tomam na
morte da imagem, e não lhe desapegues a incomensurável brandura de
tecedura limpa, nitidez reflexiva da
morte cruel dos outros. Vê o espanto. Repara no que frágil anoitece e
rubro volta em cada grito de presença por sinal maligna. Que do teu
entendimento a forte perda se enreda pelos tumultos da escrita lisa,
esse sentido do teu embevecer. Perdoarás as manchas, porém nunca as
mansas quietações redundantes dos alvores da descoberta. Porque o sabes
te esvais e renasces em cada hora do mais puro infinito discorrer dos
mundos.
para o António Ramos Rosa
(de Flores de Lava, in letra da terra, o oiro do dia, 1983)
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