[gosto muito de inventários IX]
[inevitavelmente]
ALEXANDRE O'NEILL
Inventário
Uma palavra que se tornou perigosa
Um marinheiro dum país «amigo»
Uma pobre mulher tuberculosa
E a mulher orgulhosa que persigo
A velhinha que passa no buíque
Um incêndio prestes a romper
E as ruas as ruas onde vi
O que ainda não sei ver
Uma praia elegante um estendal
De belos corpos indolentes
E as últimas mentiras dum jornal
A propósito de factos recentes
Um senhor absolutamente sério
Um doutor que esteve por um triz
P'ra fazer parte dum novo ministério
E um velho muito velho que nos diz
Avesso à multidão aos seus gritos de louca
Tenho contudo um grande amor ao Homem
Mas cuidado Uma ideia não vive sem o pão da boca
Por aquilo que não sou não quero que me tomem
Outro senhor absolutamente honesto
Ainda a velhinha do buíque
E o velho muito velho diz o resto
Diz o resto e é para que fique
Meu lema é conhecido minha voz muito menos
Mas o que digo chega ao vosso coração
Por caminhos discretos preciosos serenos
Como um selo raro a uma colecção
(E num silêncio que toda a gente ouvia
Só a mosca deu sinal de si
Dizendo com graça e ironia
Ó Cesário Verde como eu queria
Que estivesses aqui!)
(de No Reino da Dinamarca, 1958)
Sobre Guerra e Paz, de Lev Tolstoi
Há 3 horas
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