2.9.03

A GRANDE REPORTAGEM

Comecei a comprar a GR no número 10, que trazia na capa uma fotografia de guerrilheiros timorenses e no interior um belíssimo texto do director de então, Miguel Sousa Tavares, sobre Ruy Cinatti.
A partir daí, todos os meses repeti o gesto de pegar na GR num qualquer quiosque e começar a folhear antes ainda de pagar. Não sei bem porquê, mas nunca "consegui" tornar-me assinante (tenho 5 impressos preenchidos para esse efeito, que nunca cheguei a enviar!) - acho que foi por receio de certos carteiros...

Entretanto fui comprando os números em atraso, faltando-me sempre o "mítico" nº 1 (da 2ª série). Procurava-o por alfarrabistas e geralmente encontrava-o... a preços assustadores - cheguei a ouvir o preço de 7.500$00!!! Até que um dia, numa venda de coisas velhas o comprei por... 150$00.

Não acredito que qualquer outra publicação destinada a um público genérico consiga gerar um tão grande grau de afectividade como a GR.
Coerência e variedade das matérias; opiniões fundadas; entrevistas a pessoas que sabem, de facto, das coisas e que têm, de facto, coisas para dizer; debate abrangente, sem chegar à confusão; denúncia de (pequenas e grandes) situações de injustiça e/ou aberrantes, sem alarmismos, mas com firmeza e tenacidade; qualidade das imagens e do grafismo; qualidade da impressão; escrita cuidada, geralmente elegante e, sobretudo, inteligível - são alguns dos elementos que tornam a GR indispensável nas minhas leituras do mundo e admirador de quantos a têm feito.

Posso, como leitor, subscrever o que diz o director "nunca fomos pessimistas, embora muitas vezes a desilusão aparecesse em muitos parágrafos".

A GR vai mudar de formato e de periodicidade e vai perder a autonomia na distribuição. Vou sentir saudades, mesmo sabendo que a qualidade se vai manter.

Vão continuar, naquele canto do quarto, os exemplares cuidadosamente empilhados, para continuar a reler.

Até breve, GR!

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