3.9.03

FRANCISCO BRINES

Nasceu em Oliva, Valência, em 1932.
Poeta e ensaísta, licenciado em Direito e com estudos em Letras e Filosofia, foi leitor de espanhol em Oxford durante dois anos.
Em Portugal forma publicados dois livros de poesia sua: Ensaio de uma Despedida, Antologia (1960-1986), em 1987 e A Última Costa, em 1997 - ambos pela Assírio & Alvim e com tradução de José Bento. Está também representado na Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea, do mesmo tradutor e da mesma editora.


Habrá que cerrar la boca
y el corazón olvidarlo.
Dejarlo sin luz, sin aire,
como un hombre encarcelado,
y habrá que callarlo todo
lo que nos pueda hacer daño.
Cuando se caigan los muros
tendrá su rostro afilado,
y una dureza de piedra
encadenándole el canto.
Si respira dolerá,
dolerá tocar sus manos
eternas y solitarias,
y nadie podrá abrazarlo.
Que habrá quedado seco
como un árbol por el rayo,
que será una cordillera
de espinos, de pinchos bravos,
y no habrá una sola fuente
que corra por su barranco.
Su corazón será un cráter
apagado, que sin llanto,
que sin llanto.


(de Las Brasas, 1960 - incluído em Poesia Completa (1960-1997), Tusquets editores, 2ª ed: 1999)


A boca será fechada
e o coração esquecido.
Deixado sem luz, sem ar,
como alguém encarcerado,
e será calado tudo
o que nos possa causar dano.
Quando caírem os muros
terá seu rosto afilado,
e uma dureza de pedra
encadeando-lhe o canto.
Se respirar vai doer
vai doer tocar-lhe as mãos
eternas e solitárias,
sem que alguém possa abraçá-lo.
Pois terá ficado seco
como árvore por raio,
pois será uma cordilheira
de espinhos, de picos bravos,
e nem sequer uma fonte
irá correr em barranco.
Seu coração será cratera
apagada, pois sem pranto,
pois sem pranto.

[tradução minha]

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