CARL SANDBURG
Filho de imigrantes suecos, nasceu em 1878, em Galesburg, perto de Chicago, EUA.
É um dos nomes mais importantes da literatura americana do séc. XX.
Morreu em 1967, na Carolina do Norte.
Esqueci o significado de vinte ou trinta poesias escritas há trinta ou quarenta anos. As minha preferências vão ainda para poesias bem fáceis publicadas há muito e que continuam a atrair as pessoas simples. (da introdução a Complete Poems, 1951)
ANNA IMROTH
Cruza-lhe os braços sobre o peito - assim.
Endireita-lhe um pouco mais as pernas - assim.
E chama o carro para que a leve a casa.
A mãe dela há-de chorar, e também as irmãs e os irmãos.
Mas os outros salvaram-se todos: foi ela a única rapariga da fábrica
[que não teve sorte ao saltar cá p'ra baixo quando o fogo irrompeu.
Andou aqui a mão de Deus - e a falta de uma saída de emergência.
CHAMFORT
Apresento Chamfort. Um exemplo.
Fechou-se na biblioteca com uma pistola
e com um tiro desfez-se do nariz e do olho direito.
E este Chamfort sabia como se escreve
- milhares de pessoas liam os seus livros sobre a maneira de viver -
mas não era capaz de se matar
por suas próprias mãos - estão a perceber?
Foram dar com ele no tapete, num charco de sangue,
frio como uma madrugada de Abril:
falava e falava, dizendo máximas divertidas e pungentes epigramas.
Pois bem, tapou o nariz e o olho direito como uma venda,
bebeu café e conversou anos e anos
com homens e mulheres que gostavam dele
porque sabia rir e todos os dias desafiava a morte:
«Vem daí buscar-me!».
SOPA
Vi um homem famoso comer sopa.
Vi que levava à boca o gorduroso caldo
com uma colher
Todos os dias o seu nome aparecia nos jornais
em grandes parangonas
e milhares de pessoas era dele que falavam.
Mas quando o vi,
estava sentado, com o queixo enfiado no prato,
e levava a sopa à boca
com uma colher.
FUGA
Todos amavam Chick Lorimer na nossa cidade.
E mesmo fora da cidade
Todos o amavam.
Pois é: não há nenhum de nós que não ame uma estranha rapariga
que aperta ao peito o sonho que a empolga.
Ninguém sabe, agora, para onde foi Chick Lorimer.
Ninguém sabe porque fez a mala, com poucas, velhas coisas,
e fugiu
fugiu com o queixinho
espetado para a frente
e os leves cabelos ondeados
em desalinho sob o chapéu,
ela que dançava, cantava, amava com ferocidade e alegria.
Eram dez, eram cem os homens que seguiam Chick?
Eram cinco, eram cinquenta os que tinham o coração despedaçado?
Todos amavam Chick Lorimer.
Ninguém sabe para onde fugiu.
(poemas traduzidos por Alexandre O'Neill e publicados no número 4 da série de antologias Tempo de Poesia, s/d)
Luzes
Há 2 horas
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