MATILDE ROSA ARAÚJO
Nasceu em 1921.
PÁGINAS DE DIÁRIO
Outro dia
Montanhas longe alagadas de rosa pálido. O sol já se pôs aqui, as árvores estão mais escuras, os prédios indecisos parece que vão cair. Em baixo passa uma menina de branco, chapéu e vestido brancos, numa bicicleta. Um chapéu de abas largas. Ali mais para a esquerda os montes estão azuis. Uma tristeza enorme me torna prisioneira solitária de uma ilha e mesmo assim sinto-me senhora do mundo. A minha janela é alta e a beleza deste morrer do dia tamanha. Já a menina deslizou e sumiu-se como uma flor pelo asfalto cinzento a rolar. E eu fui assim como uma gota que de mim inteira resvalasse.
(in Árvore - folhas de poesia - 1º fascículo, Outono de 1951)
LUCIDEZ DESNECESSÁRIA
Diante das estrelas
E do sol
Sabendo a morte
E a vida aranha
Disconforme
E concordante
Pronta a parar na teia
Envelheci
Mas posso olhar ainda
Ainda
Cravos de sangue e rosas da estrada
Como se eterna fosse
Mas tão tarde.
(de Voz Nua, livros Horizonte, 1986)
VIDA
- Mãe! O mundo é mau,
Torna a flor num lodo
E um pássaro num verme,
E eu não sabia...
- Filha! Semeia flores no lodo,
Empresta o teu canto ao verme.
Se as tuas mãos continuarem puras
E meigo o teu coração,
Acredita que o mundo é belo.
E saberás!
(de O Cantar da Tila - poemas para a juventude, Atlântida editora, 1979 - desenhos de Maria Keil)
Luzes
Há 2 horas
Sem comentários:
Enviar um comentário