14.12.03

São JOÃO DA CRUZ, presbítero e doutor da Igreja

Nasceu em Fontiveros, província de Ávila (Espanha) pelo ano de 1542. Depois de ter passado algum tempo na Ordem dos Carmelitas, foi o primeiro entre os seus irmãos de Religião que, a partir de 1568, persuadido por Santa Teresa de Ávila, se declarou a favor da reforma da sua Ordem, tendo suportado, por isso, inumeráveis sofrimentos e trabalhos.
Morreu em Úbeda, a 14 de Dezembro, no ano 1591, com grande fama de santidade e sabedoria, de que dão testemunho os seus escritos espirituais.


(...) falando agora segundo o sentido e afecto da contemplação e conhecimento das criaturas a alma vê que há nelas tanta abundância de graças e virtudes e formosura com que Deus as dotou, que lhe parece estarem todas vestidas de admirável formosura e virtude natural, derivada e comunicada naquela infinita formosura sobrenatural da figura de Deus, cujo olhar veste de formosura e alegria o mundo e todos os céus; assim como também pelo abrir de sua mão enche de bênção todos os viventes, como diz David (Salmo 144, 16). E portanto, a alma, chagada em amor por este rastro de formosura do Amado que conheceu nas criaturas, em ânsias de ver aquela invisível formosura, que esta visível formosura causou, diz a seguinte canção:

CANÇÃO VI

Ai!, quem pod'rá sarar-me?
Entrega-te, em arroubo verdadeiro;
Não queiras enviar-me
Mais nenhum mensageiro,
Que não sabem dizer-me o que requeiro.

(...)

Como se dissera: eu quero-Te todo a Ti, e eles, os mensageiros, não me sabem nem podem dizer a Ti todo; porque nenhuma coisa da terra nem do céu pode dar à alma a notícia que deseja ter de Ti, e assim não me sabem dizer o que eu quero. Em lugar destes mensageiros, sê Tu o mensageiro e as mensagens.

(a tradução das anotações é a das Obras Completas, edições Carmelo, 5ª ed: 1986; a tradução da Canção é a de José Bento em Poesias Completas, Assírio & Alvim, 1990, que inclui gravuras de Ilda David')

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