16.12.03

G. K. CHESTERTON

Suponho que ganhei uma mentalidade dogmática. De qualquer modo, mesmo quando não acreditava em nenhuma daquelas coisas chamadas dogmas, presumia que as pessoas se associavam em sólidos grupos por causa dos dogmas em que criam ou descriam. Supunha que os teósofos se sentavam todos numa mesma sala porque todos acreditavam na teosofia. supunha que a igreja teísta acreditava no teísmo. Supunha também que os ateus se entendiam porque não acreditavam no teísmo. Imaginava que nas Sociedades Éticas eram compostas por pessoas que acreditavam na ética, mas não na teologia nem mesmo na religião. Cheguei à conclusão que estava redondamente enganado a este respeito. Hoje, acredito que as congregações destes templos semi-seculares eram, na sua maior parte, compostas por um vasto mar de vagas de vagos incrédulos ou meio-desconfiados, com as suas dúvidas ondulantes, e que nós os podemos encontrar num domingo à cata de uma solução de proveniência teísta e logo no outro domingo de uma solução de proveniência teosófica. Podem espalhar-se por muitos de tais templos; mas o que os liga é a convenção da inconvencionalidade, que por sua vez se liga à ideia de «não ir à Igreja».

(da Autobiografia, trad. e notas de Luís de Sousa Costa, Livraria Morais editora, 1960 - Círculo do Humanismo Cristão)

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