ULLA HAHN
Sobre o conceito de tradição
Se, num juízo sobre um poeta, alguém usa a palavra tradição neste país [Alemanha], isso é quase sempre mais uma crítica do que um louvor. E se o conceito vier acompanhado de um "-ismo", então a condenação é inequívoca, e o poema atingido pelo veredicto, tal como o seu produtor, deixam pura e simplesmente de ser dignos de qualquer discussão. Não há lugar para uma relação despreconceituada com uma poesia que assuma de forma aberta e consciente determinados elementos tradicionais. É fácil torcer o nariz diante do cadáver, quando antes se afogou zelosamente em Ismos tudo o que era vivo, porque se mexia, e porque mexia com os outros de forma diferente da desejada. Na melhor das hipóteses, pergunta-se o que há de novo apesar da tradição, e não devido a ela - como se o lugar do velho fosse, se não logo a sucata, pelo menos a vitrina do museu, e como se o que é de hoje tivesse valor apenas pela sua "novidade". As exigências de "novas formas", tal como aparecem hoje nos prefácios a antologias de poesia, lembram a obsessiva procura, por parte das agências de publicidade, de novos slogans para os seus produtos. Está na ordem do dia uma tendência verdadeiramente servil para uma actualidade de fachada (...) Mas existe também, para além de um provincianismo no espaço, um provincianismo no tempo, e T. S. Eliot já chamou a atenção para isso. Quem escreve e emite juízos como se o mundo pertencesse apenas aos vivos, é um provinciano da História. E são sinal de tacanhez, tanto o seguidismo hipócrita como o apego cego ao velho.
(texto citado e traduzido por João Barrento, após a entrevista introdutória de A Sede entre os Limites, Relógio d'Água editores, 1992 - sublinhados meus)
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Há 1 hora
1 comentário:
Este texto fez-me lembrar a questão despoletada pelo livro D.Jaime, de Tomás Ribeiro, autor do século XIX. A obra, que não desperta nenhum interesse hoje, a não ser para referir isto; foi apadrinhada de Feliciano de Castilho, que defendeu que o livro era superior aos Lusíadas (parao ensino da língua portuguesa).
Parabéns pelo blogue!
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