27.2.08

[de como um leitor acha não se haver desencontrado com a memória deste poeta #7]

JOSÉ DO CARMO FRANCISCO

R. B.


Escrevo-te cartas longas em longas tardes de esplanada
E repito constantemente coisas datas e palavras
Nas tuas praias e nos teus livros respiro os poemas
Como se fosse possível eu compreender tudo

Escrevo-te cartas que não chego nunca a pôr no correio
Não sei a tua actual direcção nem saberei
Se mesmo tendo direcção gostarias de as receber
Ou se a leitura te poderia provocar alguma alegria

Escrevo-te cartas e demoro-me com medo na tarde
Quando o céu se transforma numa nuvem cinzenta
Que se abre como se fosse a boca de alguém
À procura das palavras soletradas pela morte

(de Iniciais, Moraes editores, 1981 – Círculo de Poesia)

4 comentários:

jcfrancisco disse...

Não admiro a ausencia de comentarios as pessaos não têm tempo

ruialme disse...

Caro José do Carmo, ter tempo, até têm, mas é um tempo detergente.

Memória transparente disse...

Excelente este poema.

panaceia disse...

Do pouco que ainda te conheço, revejo-te neste belíssimo poema do Ruy Belo.
Lia