19.9.11


ANA MARQUES GASTÃO


Como dizer o teu nome
se teu nome é sombra
e nem te oiço
no Outono final.

Como dizer o teu nome
se nem nos sonhos te encontro
estrela em fuga
num reino crepuscular.

Como dizer o teu nome
se esta é uma terra morta
sem mães vivas
nem espaço para mim.

Como dizer o teu nome
neste vale vazio
último lugar do encontro.

--//--


Regular recordação de mim.
Os pais são filhos da memória
e um negro e estático insecto
destrói suas eternas asas
enquanto a terra te corrói.
Nunca mais seremos completos.

Uvas amargas as da maturidade
pouco a pouco o sol fica cego.
Guardiões do quotidiano, sem vós
o coração devolve-se a si mesmo
como um órfão numa macabra marcha
à semelhança dos primeiros deuses.

--//--

Nas tuas mãos
os segredos
a rosa
na sua durável
paciência.

Nesta segunda 
vida-morta 
sei-te a pré-história 
de Deus.

Mataram-te,
mas não no meu poema.


(de Terra Sem Mãe, Gótica, 2001)


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