ANA MARQUES GASTÃO
Como dizer o teu nome
se teu nome é sombra
e nem te oiço
no Outono final.
Como dizer o teu nome
se nem nos sonhos te encontro
estrela em fuga
num reino crepuscular.
Como dizer o teu nome
se esta é uma terra morta
sem mães vivas
nem espaço para mim.
Como dizer o teu nome
neste vale vazio
último lugar do encontro.
--//--
Regular recordação de mim.
Os pais são filhos da memória
e um negro e estático insecto
destrói suas eternas asas
enquanto a terra te corrói.
Nunca mais seremos completos.
Uvas amargas as da maturidade
pouco a pouco o sol fica cego.
Guardiões do quotidiano, sem vós
o coração devolve-se a si mesmo
como um órfão numa macabra marcha
à semelhança dos primeiros deuses.
--//--
Nas tuas mãos
os segredos
a rosa
na sua durável
paciência.
Nesta segunda
vida-morta
sei-te a pré-história
de Deus.
Mataram-te,
mas não no meu poema.
(de Terra Sem Mãe, Gótica, 2001)
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