MADALENA FÉRIN
Nasceu em São Miguel, Açores, em 1929.
[Viagem para Andrómeda - 1962-1965]
Nada senão o agudo desafio.
raivosamente ocultos
nos buscamos
Prisioneiros de fogo
de coxas vigilantes
atentos em si mesmos
como rios
Osmose que se quer
violenta
não possível
tensa tensa manhã
rasgada em limbo
sob as bocas coladas
que se esmagam
como barcos exangues
e perdidos
*
Delta é a noite
arranhada no seio
sob a faca e o farol
e o novo grito
rota é a noite
debruçada no leito
sem a roxa romã
do sexo frio
e por detrás da culpa
duma esquina
há um muro apanhado
a encolher
na dor que se desdobra
e nos margina
é a noite que está
a irromper
[A Cidade Vegetal - 1966-1975]
Cidade vegetal
flutuando no tempo
com paredes de aroma
e o portão por abrir
existes no espaço
da invenção
és a moldura exacta
do amor
*
O homem que atravessa
o prado e a lama
e tem fome e o gesto
ressequido
o pássaro que mergulha
o rosto antigo
na líquida vertigem
e o ventre
a cabra que se oscila
a rasga do vento
e como vidro cai
sino silente
mais o portão de ferro
que se fende
[Recados de Ítaca - 1983-1986]
dou-te
a duna mais secreta
desta ria
a noite mais escura
e a bravia
visão
de vento e sal
tenho
a rede
estendida
entre as estrelas
talvez apanhe nelas
nesta espera
a imagem que negaste
ao meu olhar
(de A Cidade Vegetal, Direcção Regional dos Assuntos Culturais / Secretaria Regional da Educação e Cultura, 1987 - colecção Gaivota)
Já faltou mais.
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