JOSÉ AGOSTINHO BAPTISTA
8.
Outra vida não concedem os deuses.
Dourados templos;
douradas naves; o altar em que perecemos -
ares de vago incenso apaziguam a febre, ardem devagar,
tumultuosamente.
Sombras vi na locomoção do tempo.
Vai-se de uma véspera às horas mais altas.
Em frente -
ouve-se como um eco de pirâmides, muito cedo.
Chega-se ao fim quando tudo se cala.
Fecham-se as cancelas, os lábios.
Fechamo-nos no ocaso das rosas, não florimos com o trevo.
Um sonho de água atravessará o mármore, as galerias do sangue -
consumai o sacrifício.
Que seja a dança, claridade.
Baías onde a mágoa não perdura.
Um vinho incandescente na orla dos mares.
Remos, sinais de alegria, nenhuma morte no intervalo das luas.
Eu cantei as tempestades, o presságio dos ventos.
Eles arremessam os dardos.
flechas que me habituam ao tempo e ao coração -
assim emudecem os astros na clara noite do norte e das montanhas -
assim estremece o peito, a morada de um homem.
Se o lançarem às vagas desfolhar-se-á vivamente.
(de Autoretrato, Assírio & Alvim, 1986 - cadernos peninsulares / literatura - sublinhado meu)
dois docinhos do Xana
Há 10 horas
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