16.2.04

JOSÉ AGOSTINHO BAPTISTA

8.


Outra vida não concedem os deuses.
Dourados templos;
douradas naves; o altar em que perecemos -
ares de vago incenso apaziguam a febre, ardem devagar,
tumultuosamente.

Sombras vi na locomoção do tempo.
Vai-se de uma véspera às horas mais altas.
Em frente -
ouve-se como um eco de pirâmides, muito cedo.

Chega-se ao fim quando tudo se cala.
Fecham-se as cancelas, os lábios.
Fechamo-nos no ocaso das rosas, não florimos com o trevo.
Um sonho de água atravessará o mármore, as galerias do sangue -
consumai o sacrifício.

Que seja a dança, claridade.
Baías onde a mágoa não perdura.
Um vinho incandescente na orla dos mares.
Remos, sinais de alegria, nenhuma morte no intervalo das luas.

Eu cantei as tempestades, o presságio dos ventos.
Eles arremessam os dardos.
flechas que me habituam ao tempo e ao coração -

assim emudecem os astros na clara noite do norte e das montanhas -

assim estremece o peito, a morada de um homem.

Se o lançarem às vagas desfolhar-se-á vivamente.


(de Autoretrato, Assírio & Alvim, 1986 - cadernos peninsulares / literatura - sublinhado meu)

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