19.4.10

JOSÉ OLIVEIRA


VALE DO SILÊNCIO


A noite estende-se, discreta,
sobre o mar.
E um silêncio gelado invade
as águas.
Refugio-me. Estou deitado sobre
o tempo.
Digo em voz alta os nomes castos
das coisas.
Já não há cistros.
Apenas uma tisana para tomar
de madrugada.
quando o medo aperta.
Sigo com o vento.
Oriento-me pelo rasto de sangue
das aves.
Subitamente um corpo estendido
na estrada.
Suor. Recuo. Febre.
Abrigo-me na sombra pura
dos álamos.
Os olhos virados para o silêncio.
Desejaria agora um rosto,
um campo de sargaços,
uma pedra fria, ou o cheiro
da resina.
Um bosque rente à boca.
Mas conheço unicamente o interior
ácido das letras.
Esse rio de melancolia que vai do
corpo à palavra.


(de ciclo do mar, edição do Autor, 1984)

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