9.2.04

ANNA ENQUIST

MENTIRAS EM TEMPO DE GROSELHAS


Que construção é mais sólida, se aguentou
mais tempo. E quantos mais aí moram, menos se
a consegue abandonar. Para onde. Anseia-se
por uma casa de Verão sem um fogão e sem
história. Estou aqui porque estou aqui.

Esta noite estive acordada, fazia vento, chuvas
fustigavam o castanheiro, enquanto já vinha o dia,
a noite não tinha trazido paz. Eu sabia
como eram as coisas, fui dormir e acordei
numa manhã de silêncio, lívida de tristeza.

Não se pode continuar com lamúrias. As ameixas
baqueiam podres das árvores, no frio
quintal as cores envelhecem velozes. Experi-
mentar tudo sem anestesia, pôr a postos as panelas e
o açucar, gerir os arquivos, guardar os cacos.

(tradução de Catherine Barel in Uma Migalha na Saia do Universo, Antologia da Poesia Neerlandesa do Século Vinte, selecção e introdução de Gerrit Komrij, Assírio & Alvim, 1997 - Documenta poetica)

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