A vida humana é extraordinariamente feliz e infeliz. Os homens são extraordinariamente bons e maus. Não sou pessimista: não vejo o homem como uma bola orgânica má, apenas. Mas julgo que é um optimismo pouco lúcido, e até perigoso, considerar que os humanos são uma espécie de bonzinhos intermináveis. Foi o facto de os homens não estarem atentos à maldade dos outros e de si próprios que fez com que ocorressem uma série de tragédias no século em que a cultura atingiu o seu auge. Um carrasco pode citar Heraclito ou Shakespeare enquanto tortura.
É importante que a literatura, a poesia e as artes nunca esqueçam a maldade potencial de todos os homens. A função de desencantar, em que o Um Homem: Klaus Klump se insere, é uma espécie de agulha que incomoda constantemente, como quem diz: "Não te esqueças da tua maldade, ela anda por aí, algures, não te esqueças dela, localiza-a bem para a controlares, para evitares que ela venha à superfície." Temos de estar atentos: à maldade dos outros e também à nossa. Não é ser niilista nem um pessimista entediado com tudo, é apenas ligar a lucidez como se liga o botão da electricidade.
(de uma entrevista concedida a Maria João Cantinho, para a revista Os meus livros, número 18 - Janeiro de 2004)
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