9.5.04

ABELARDO LINARES

NÃO QUERO


Não quero outro abraço a não ser o da tua sombra
de metal humedecido nem outro sorriso
a não ser o das dez e dez no mostrador do meu relógio.
O meu cansaço é um cansaço de pássaro
com uma única asa caindo até ao centro da terra.
Esperar por ti foi tão belo como a aurora boreal
reflectida na fria pupila dos pinguins.
Por ti valeu a vida, por ti a vida foi
aquilo que esperamos e nunca chega, para além da vida.
Mas alguns sonhos não são senão o sonho de um punhado de areia
e o meu olhar contempla agora as infinitas costas do mundo.

(tradução de Joaquim Manuel Magalhães, in Trípticos Espanhóis 1º, Relógio d'Água, 1998)

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