12.5.04

ARTHUR RIMBAUD

(...)
Agora, mergulho na maior devassidão possível. Porquê? Quero ser poeta e trabalho para me tornar visionário: vós não compreendeis nada e eu não sei se saberei explicar-vos. Trata-se de atingir o desconhecido através do desregramento de todos os sentidos. Os sofrimentos são enormes mas é preciso ser-se forte, ter nascido poeta, e eu reconheci-me poeta. Não é de modo algum culpa minha. É falso dizer-se: eu penso. Deveria dizer- se: sou pensado. - Desculpe o trocadilho. -
Eu é um outro. Tanto pior para a madeira que se descobre violino e zomba dos inconscientes que discreteiam sobre aquilo que pura e simplesmente ignoram. Não sois Mestre para mim. Dou-vos isto: será uma sátira como vós diríeis? É poesia? Fantasia, é-o sempre. - Mas, suplico-vos, não a sublinheis com o lápis nem - demasiado - com o pensamento:
Coração Supliciado
(..................................)

Isto não quer dizer nada. - RESPONDA-ME: para casa do sr. Deverrière, para A. R.
Saúdo-o, de todo o coração,
Art. Rimbaud

(excerto de uma carta dirigida a Georges Izambard, em Maio de 1871, quando tinha 17 anos - tradução de Ângelo Novo, Cartas do Visionário, Fora do Texto, 1995)

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