ANA MARQUES GASTÃO
Nasceu em 25 de Agosto de 1962.
É redactora cultural do DN.
A propósito do primeiro livro dela António Osório diz: «Aqueles que se amam têm segredos e felinas designações. O seu reino é o da juventude do mundo. A paixão autêntica dá o encanto a esta poesia: eis um livro que nos conta uma história de amor, e as suas ditosas, repetíveis palavras.»
Ruídos, pressentimentos, sussurros, escuridão.
Lamento, ira, suor, apaziguamento.
Também se tocam sinos pelos abatidos.
Quem sabe se encontrarei um porto?
Cidade meia-desperta, cais atónito.
Chegam, subtis, os comboios do destino.
Partem flutuando como alma da vida
para longínquas paragens – a ilha.
Vós que vos vedes como navios à deriva,
encontrai no medo espumoso do incerto
o quebrar dos ossos deste ser,
poeira disforme de um corpo sem direcção.
Dentro de mim o cadáver do outro
embala-me num futuro sem agenda.
Dentro de mim a evidência, a terna evidência
de que a metafísica é estar-se calado.
(de Tempo de Morrer Tempo para Viver, Universitária, 1998)
*
Então
a palavra pranto
ergueu-se íngreme
até ao riso.
Repouso
ó mãe
minha morte
em teu colo.
(de Terra Sem Mãe, Gótica, 2001)
*
N
E eu era frágil fardo
deus suave partida
a saída do imediato.
Nada é, tudo é
na estridência
de se estar vivo.
(de O SILÊNCIO DE DEUS, in TRÊS VEZES DEUS, Assírio e Alvim, 2001)
*
Não é o coração
Não é o coração
mas esta carne
em seu rumor.
Não é o coração
mas teu silêncio
de intenso furor.
Não é o coração
mas as mãos
sem corpo, vazias.
Na grave melodia
de um instante
tu e eu
em desequilíbrio
na infame
consistência
de um absoluto
obstáculo.
(de Nocturnos, Gótica, 2002)
Ladainha dos póstumos Natais
Há 2 horas
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