26.6.03

«RAMÓN GÓMEZ DE LA SERNA,
ou simplesmente Ramón, como toda a Europa e América Latina artísticas o conheceram nos anos 20 e 30, nasceu em Madrid em 1888. (…) Obra imensa – de todos os géneros que existiam e que não existiam (…) Com Chaplin e Pitigrilli, foi o único estrangeiro admitido na Academia de Humor Francesa. E Valéry Larbaud, que poucas vezes se enganou, dele disse: “Com Proust e Joyce é um dos maiores escritores do século XX”. Em 1936, com o deflagrar da Guerra Civil, parte para Buenos Aires onde conhecera Luisa Sofovitch que o acompanhou até à morte em 1963»

GREGUERÍAS

Como dava beijos lentos, duravam-lhe mais os amores.

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Sofá-cama: os sonhos ficam em baixo, a conversa em cima

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Amor é acordar uma mulher e ela não se irritar

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As palmeiras levantam-se mais cedo do que as outras árvores.

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Velho actor: deixou uma dentadura que declamava Shakespeare.

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Os rios não conhecem os seus nomes.

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A gaivota rema ao voar.

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O ferro eléctrico parece servir café às camisas

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O capitalista é um senhor que, quando fala connosco, nos fica com os fósforos

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Quando temos uma manga descosida e enfiamos o braço entre o forro e o tecido, extraviamo-nos pelo caminho dos manetas

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A lua é o espelhinho com que o sol se entretém de noite a inquietar os olhos da terra.

[escolha feita a partir da selecção de Jorge Silva Melo, de quem também são a tradução e a introdução de onde tirei os excertos biográficos – Assírio & Alvim, 1998 – Colecção Gato Maltês]

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