SEBASTIÃO ALBA
«Era um poeta e vivia na rua, como um mendigo, por opção, para não ser cúmplice. Tinha o nome nas enciclopédias mas os seus haveres eram um saco de plástico com papéis, um pão e uma garrafa de vinho, e um rádio a pilhas sempre sintonizado na Antena 2.» (PAULO MOURA, in Público, 20 de Novembro de 2000)
Nasceu em Braga em 1940.
Sebastião por parte da Mãe, Alba por parte do Pai. (Nome civil: Dinis Albano Carneiro Gonçalves)
Vai, aos 9 anos, com a família para Moçambique. Cresce, é condenado por deserção e após a independência ocupa um lugar oficial que abandona por incompatibilidades. Regressa em 1983 a Braga, mas muda-se durante cinco anos para Miratejo, voltando depois definitivamente à cidade natal.
Entretanto escreveu poemas, teve duas filhas, ganhou prémios e foi uma referência para a juventude.
Morreu no ano 2000, atropelado. Pouco antes tinha escrito um bilhete ao poeta Virgílio Alberto Vieira: “Se um dia encontrarem morto ‘o teu irmão Dinis’, o espólio será fácil de verificar: dois sapatos, a roupa do corpo e alguns papéis que a polícia não entenderá.”
«Uma palavra que está sempre na boca transforma-se em baba»
Provérbio Burundi
Deixa entrar no poema
alguns clichés.
Submetidos à experiência inefável,
sua carga (eléctrica?)
escoar-se-á.
Não há uma vala comum para as palavras
decaídas,
um dicionário no inferno;
mas deixa-as vir à tona
da claridade,
e nada lhes insufles. Vê:
não suportam a beleza
que as circunda, abismam-se
em seu ridículo.
(de A NOITE DIVIDIDA, 1981)
*
Porque dos mortos
se incumbem as estrelas
da guerra e da paz
basta para meu enredo
que de manhã a noite abra
o seu redil de sombras
uma delas me fareje
e se estenda a meus pés
e ali tose um caracol
suas verdes minúcias
levando às costas
a maciça cabriola.
(de O LIMÍTE DIÁFANO, 1996/2000)
[a maior parte da sua poesia está acessível nas colectâneas: A Noite Dividida, Assírio & Alvim, 1996 e Uma Pedra ao Lado da Evidência, Campo das Letras, 2000]
dois docinhos do Xana
Há 10 horas
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