JOSÉ BAÇÃO LEAL
(Lisboa - 01-07-1942 / Nampula - 01-09-1965)
Noite
Se tivesses boca e fosses mulher
conheceria o morrer de amor
*
Absoluta e contente
vem ao encontro dos meus gestos
e dos meus silêncios de pedra
as nuvens
morrem nas fendas do vento
e eu morro nos gritos da terra.
*
Amor... um dia
terei de beijar o vidro rasgado
terei de moldar um passado.
Mas nesse dia não chores
espera que eu surja entre a bruma
com o corpo envolto em espuma.
Transforma as certezas
em flores murchas na madrugada
em gritos de sangue numa evasão
Depois para teu bem
e enquanto esperas que chegue alguém
vai falando de mim
como se eu continuasse a viver
e o morrer não fosse o fim
*
Ah vazio! eterno vazio!
vais-me matando aos poucos
estou farto de não viver
não tarda estarei louco
ou morto sem morrer
[poemas retirados de um livro de 1966, sem título, compilado por amigos do autor que referem: "Estas poesias foram-nos cedidas pela Mãe do Zé que carinhosamente as recolheu de rascunhos que ele deitava fora"]
Ladainha dos póstumos Natais
Há 1 hora
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