POESIA CHINESA (I)
HÁN YÚ
Nasceu em 768, na actual província de Héán.
Foi o grande líder do movimento literário da sua época.
Ferveroso confucionista, foi exilado em Cantão devido aos seus ensaios contra a doutrina budista, mas depois alcançou o lugar de ministro do exército.
Morreu em 824.
SOBRE OS CAVALOS
Só depois de ter existido Bó Lè é que começaram a surgir cavalos velozes. Têm existido incontáveis cavalos velozes, mas alguém como Bó Lè raramente existe. É essa a razão por que, embora nasçam muitos cavalos notáveis, eles nada recebem para além do desprezo dos servos, acabando por morrer nos estábulos sem terem sido considerados como cavalos velozes.
Os cavalos velozes conseguem ingerir grandes quantidades de painço numa só refeição, mas os tratadores não sabem alimentá-los de acordo com o seu apetite. Tais cavalos poderiam tornar-se muito velozes mas, como não comem o suficiente, as suas forças falham e as suas capacidades não desabrocham. Nem mesmo se lhes pode exigir que cheguem ao nível dos cavalos vulgares, quanto mais exigir que sejam especialmente velozes!
Conduzem-nos contrariando a sua maneira de ser, alimentam-nos em desacordo com o seu apetite e batem-lhes sem procurar compreender a sua vontade. Por fim, empunhando um chicote, aproximam-se e exclamam na sua frente: «não há cavalos valorosos no mundo!»
Será assim? Não haverá cavalos valorosos no mundo ou isso acontece apenas porque ninguém é capaz de os reconhecer?
(in O Rosto do Vento Leste - doze textos de prosa clássica chinesa, Assírio & Alvim, 1993 - tradução de Cláudia Ribeiro e Zhang Zhèng-Chun)
ESCRITO A CAMINHO DO EXÍLIO QUANDO CHEGUEI À PASSAGEM DE LANTIAN - E MOSTRADO AO MEU SOBRINHO XIANG
Um memorial, pela manhã, submetido aos nove degraus do céu.
À tardinha, banido pelo Chaozhou a oito mil li de distância!
Por causa do nosso sacro governante, queria eu afastar o mal;
Nunca pensei, velho corpo decrépito que sou, vir a lamentar
[os dias que me restam.
As nuvens pairam sobre a cordilheira de Qin
- Para que lado fica a minha casa?
A neve bloqueia a passagem de Lan,
Não avança o meu cavalo.
Tens uma razão, ao vires até tão longe comigo,
- Tem a bondade de tirar os meus ossos das margens do fétido rio.
[n. do trad.: "os 'nove degraus do céu' são o trono imperial"]
(in Uma Antologia de Poesia Chinesa, por Gil de Carvalho - Assírio & Alvim, 1989)
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