25.7.03

POETAS IMPROVÁVEIS (II)

JOAQUIM BENITE

Começou como crítico de teatro e em 1970, já como encenador, funda o Grupo de Campolide, que em 1978 passa para Almada, depois de uma temporada no Trindade. Tem sido um grande divulgador do teatro, não só como encenador, sua principal actividade, mas também com textos de reflexão, formação e na direcção da Companhia de Teatro de Almada, da revista Cadernos de Teatro e do importante acontecimento cultural que é o Festival de Almada, já há 20 anos.

Bandeiras

Na cidade de pasta
vivo triste
em busca do caminho
para o mar

a minha rua
está cheia de bandeiras

que poemas cantarão
os meus vizinhos
na cidade de pasta
com janelas de vidro?

bandeiras
na rua

são os soldados menino
anda ver a música
o tambor quebrado
contra o teu destino

bandeiras na gente
que passa
quem grita dentro desta gente?

bandeiras
que vão para a guerra
fabricar bandeiras

(cantiga de embalar dita por um velho pacifista);

De onde nascer a glória
meu filho
cairá vazio nos jardins
o sol nascerá
do lado do teu coração


Canção do Camponês

Falo
porque caminho
e pergunto

porque amo
simplesmente
as mãos da terra

porque sangra
a ferida
que outros fizeram

porque tenho o corpo
cheio de futuro

falo
porque a enxada geme
nos meus ombros

neste dever curvado
de cantar a luta

(de Tempo de Guerra, in Andaime - 1º Caderno, Julho de 1963)

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