COSTA ALEGRE
Nasceu em 1864 “no sítio da Capella na freguesia da Trindade” na ilha de São Tomé.
Veio, ainda criança, estudar para Lisboa. Aluno sempre brilhante, será dos melhores alunos do seu tempo na Escola Médico-Cirúrgica.
A sua obra, entre outras características, é marcada por uma contraditória tensão entre o assumir e o repudiar da sua cor de pele.
Não publicou nenhum livro em vida, mas pode ser considerado um percursor do(s) simbolismo(s), mesmo antes de António Nobre ou de Eugénio de Castro.
Morreu em 1890, em Alcobaça, com 26 anos. O seu cortejo fúnebre, entre Santa Apolónia e o cemitério dos Prazeres, reuniu mais de mil pessoas.
IMPOSSÍVEL
Basta. O teu pranto enxuga, ó minha branca fada!
És bela como a luz e como a luz és pura,
Contudo não me encanta a doce formosura,
Que em tua face tens de prantos orvalhada!
O pranto de mulher é pérola nevada!
Ao sorvê-la consola, é plena de doçura,
Depois, Laura, depois... ai! flor, quanta amargura
Às vezes não contém a jóia delicada!?
São íntimas irmãs a mulher e a mentira,
Não creio em ti, não creio! Eu já sonhei que vira
Uma mulher chorando eterno amor jurar-me.
Acreditei! mas foi lograda a minha esperança...
Amar alguém! amar! Impossível, criança,
Eu não amo ninguém, e ninguém pode amar-me.
8 de Dezembro de 1884
AS DUAS RIVAIS
- O desespero, que minha alma traga!
Dura e fatal contradição, que chega
A endoidecer, e a inteligência assombra!
Deixar a luz para viver na sombra! -
Suspira a branca, que a chorar se cala.
Responde a negra de harmoniosa fala:
- Mas é que a luz, ai! muita vez nos cega!
Mas é que a sombra muita vez afaga!
Branca: a luz fere; negra: a sombra embala.
(de Versos, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1991)
17.7.03
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