MARCELO DA VEIGA
Nasceu em 1892 na ilha do Príncipe, mas cedo passa a viver em Lisboa. Foi um convicto activista anti-colonial e apesar de ter vivido à margem das movimentações políticas, chegou a estar preso em Angola.
Morreu em 1976, na sua terra natal, deixando vasta obra dispersa por jornais e outras publicações, parcialmente reunidas após a sua morte.
O BATUQUE
(fragmento)
I
Nestas noites assim de tanto frio,
Noites de nostalgia,
Noites de medo e azar
Em que o vento p?la serra uiva sombrio,
A minha alma repleta de agonia
Voa aflita p?ra o meu distante lar
Noites da minha terra!...
Ébrias de encanto e de perfume que erra...
Noites faulhando lume qual se os astros
Descessem e na terra então, de rastros,
Reluzissem!
(in No Reino de Caliban II, Plátano editora, 3ª edição, 1997 - organização de Manuel Ferreira)
COSTA ALEGRE
Numa ilha do equador
Onde florescem palmas e cacoeiros
E têm murmúrios doces os ribeiros,
Nasceu um sonhador,
Um visionário, asceta,
Alma branca, de flor,
Que o destino fadou e sagrou poeta.
Menino e moço ainda,
Como a ave que bate a asa esperta e linda
Mal pressente na voz primeiro canto,
Deixou um dia, rindo, sem um pranto,
A sua ilha que o sol afaga e alinda.
Alegre lhe chamaram;
Para a glória o fadaram,
P?ra triunfador nasceu,
Mas como a ave que pelo espaço corre
E, após primeiro trilo, cai e morre,
Costa Alegre morreu!
(in Poetas de S. Tomé e Príncipe, 1963 - reproduzido em No Reino de Caliban II)
A NOSSA GERAÇÃO
A nossa geração trouxe a Mensagem
Que gerou o sonho e trouxe a Ideia...
Ela fica (semente como a areia),
Que o tempo leva e espalha na passagem.
Podemos partir. É bem tarde já.
A seara cresce e rumoreja ao vento.
Que mais alegria ou contentamento?
Partamos! A outra vem e colherá!
Amadora, 30-9-1965
(in Bendenxa / 25 poemas de São Tomé e Príncipe para os 25 anos de Independência, editorial Caminho, 2000 - organização de Inocêncio Mata)
17.7.03
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