17.7.03

MARIA MANUELA MARGARIDO

Nasceu em 1925, na Roça Olímpia, ilha do Príncipe. Estudou Ciências Religiosas, Sociologia, Etnologia e Cinema na Sorbonne de Parisonde esteve exilada. Foi embaixadora do seu país junto de várias organizações internacionais e assessora do presidente de Portugal, Mário Soares.

A ilha te fala
de rosas bravias
com pétalas
de abandono e medo.

No fundo da sombra
bebendo por conchas
de vermelha espuma
que mundos de gentes
por entre cortinas
espessas de dor.

Oh, a tarde clara
deste fim de Inverno!
Só com horas azuis
no fundo do casulo,
e agora a ilha,
a linha bravia das rosas
e a grande bab negra
e mortal das cobras.

(de Alto como o Silêncio, 1957 - reproduzido em Bendenxa)

SÒCÒPÉ

Os verdes longos da minha ilha
são agora a sombra de ocá,
névoa da vida,
nos dorsos dobrados sob a carga
(copra, café ou cacau - tanto faz).
Ouço os passos no ritmo
calculado do sòcòpé,
os pés-raízes-da-terra
enquanto a voz do coro
insiste na sua queixa
(queixa ou protesto - tanto faz).
Monótona se arrasta
até explodir
na alta ânsia da liberdade.

(in Poetas de S. Tomé e Príncipe, 1963 - reproduzido em No Reino de Caliban II)

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