ERASMO
Fico a saber pelos blogues (agora já não sei bem quais...) que Paula Bobone continua a fazer sucesso com as suas pretensas etiquetas (“enquanto as etiquetas etiquetam, os relógios tiquetaqueiam”, dizia o O’Neill) e que o Expresso publicou (parece que com alarido, mas eu não frequento hebdomadários...) um manual de boa conduta, ou lá o que é.
Ora os factos podiam muito bem ter passado despercebidos aos meus ilustres neurónios, mas não é que estes se lembraram (imaginem...) dum livrito que tenho aqui do bom do Erasmo de Roterdão (Roterdão, 1466? - Basileia, 1536) e do qual seleccionei uns trechos (quase...) aleatoriamente?
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Ter ranho no nariz, é próprio de um homem desmazelado e disso se acusou Sócrates, o filósofo. Assoar-se à boina ou a uma banda de roupa é próprio de um camponês; ao braço ou ao cotovelo, de um vendedor de salgados. Mas não é mais asseado assoar-se à mão para depois a limpar às roupas. É mais decente servir-se de um lenço, afastando-se um pouco se estiver presente alguma pessoa de mérito. Se nos assoarmos a dois dedos e cair ranho por terra, é preciso pôr-lhe o pé em cima. Não é conveniente respirar ruidosamente pelas narinas, o que denota um temperamento colérico; e ainda menos roncar, o que é prova de violência - sobretudo se isso se tiver tornado um hábito, só desculpável nos asmáticos e nos que têm dificuldade em respirar. É ridículo falar pelo nariz - o que é próprio dos que tocam gaita de foles e dos elefantes; franzir o nariz é hábito dos bufões e dos palhaços.
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É preciso ter o cuidado de ter os dentes limpos; embranquece-los com a ajuda de pós é completamente efeminado; esfregá-los com sal ou alúmen faz mal às gengivas; lavá-los com urina é um costume espanhol.
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Não se deve ser curioso em relação aos segredos dos outros, e se os teus olhos ou orelhas surpreenderem algum procura ignorar o que ficaste a saber.
(de A Civilidade Pueril, tradução de Fernando Guerreiro, editorial Estampa, 1978)
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